terça-feira, 25 de junho de 2013

A ESCOLA DO MEUS SONHOS

Na escola dos meus sonhos, os alunos aprendem a cozinhar, costurar, consertar eletrodomésticos. A fazer pequenos reparos de eletricidade e de instalações hidráulicas. A conhecer mecânica de automóveis e de geladeira e algo de construção civil. Trabalham em horta, marcenaria e oficina de escultura, desenho, pintura e música no coro e tocam na orquestra.
Uma semana ao ano integram–se na cidade, ao trabalho de lixeiros, enfermeiros, carteiros, guardas de trânsito, policiais, repórteres, feirantes e cozinheiros profissionais. Assim aprendem como a cidade se articula por baixo, mergulhando em suas conexões subterrâneas que na superfície, nos asseguram limpeza urbana, socorro saúde, segurança, informação e alimentação.
Não há temas tabus. Todas as situações-limite de vida são tratadas com abertura e profundidade: dor, perda, falência, parto, morte, enfermidade, sexualidade e espiritualidade. Ali os alunos aprendem o texto dentro do contexto: a Matemática busca exemplos na construção dos precatórios e nos leilões das privatizações; a Língua Portuguesa, na fala dos apresentadores de TV e nos textos de jornais ; a Geografia nos suplementos de turismo e nos conflitos internacionais; a Física nas corridas de Fórmula I- e nas pesquisas do supertelescópio Huble; a Química na qualidade dos cosméticos e na culinária; a História na violência de policiais contra cidadãos, para mostrar os antecedentes na relação colonizadores-índios, senhores-escravos, exército-canudo,etc.
Na escola dos meus sonhos, a interdisciplinaridade permite que os professores de Biologia e Educação Física se complementem: a multidisciplinaridade faz com que a História do livro seja estudada a partir da análise de textos bíblicos; a transdisciplinaridade introduz aulas de dança e meditação e associa a história de arte à história das ideologias e das expressões litúrgicas.
Se a escola for laica, o ensino religioso é plural: o rabino do judaísmo; o pai de santo do candomblé; o padre do catolicismo; o médium do espiritismo, o pastor do protestantismo, o guru do budismo, etc. Se for católica, há periódicos retiros espirituais e adequações do currículo litúrgico da igreja.
Na escola dos meus sonhos, os professores são obrigados a fazer periódicos treinamentos e cursos de capacitação e só são admitidos se, além da competência, comungam os princípios fundamentais da proposta pedagógica e didática, porque é escola com ideologia, visão de mundo e perfil definido do que sejam democracia e cidadania. Essa escola não forma consumidores, mas cidadãos.
Ela não briga com a TV, mas leva-a para a sala de aula. São exibidos vídeos de anúncios e programas e, em seguida, analisados criticamente. A publicidade do iogurte é debatida; o produto, adquirido: sua química analisada e comparada com a fórmula declarada pelo fabricante; a incompatibilidade, denunciadas, bem como os fatores porventura nocivos á saúde. O programa de auditório de Domingo é destrinchado: a proposta de vida subjacente, a visão de felicidade, a relação animador-platéia, os tabus e preconceitos reforçados etc. Em suma, não se fecham os olhos à realidade, muda-se a ótica de encará-la.
Há integração entre escola, família e escola. A política com P maiúsculo, é disciplina obrigatória. As eleições para o grêmio ou auditório estudantil são levadas a sério e, um mês por ano, setores não vitais da instituição são administrados pelos próprios alunos. Os políticos e candidatos são convidados para debates e seus discursos, analisados e comparados às suas práticas.
Não há provas baseadas no prodígio de memória nem na sorte da múltipla escolha. Como fazia meu velho mestre Geraldo França Lima, professor de História ( hoje romancista e membro da Academia Brasileira de Letras), no dia da prova sobre Independência do Brasil os alunos traziam para a classe a bibliografia pertinente e, dadas as questões, consultavam os textos, aprendendo a pesquisar.
Não há coincidência entre o calendário e o currículo. João pode cursar a 5a série em seis meses ou em seis anos, dependendo de sua disponibilidade, aptidão e recursos.
É mais importante educar do que instruir, formar pessoas que profissionais: ensinar a mudar o mundo que ascender à elite. Dentro de uma concepção holística, ali a ecologia vai do meio ambiente aos cuidados com a nossa unidade corpo- espírito e o enfoque curricular estabelece conexões com o noticiário da mídia.
Na escola dos meus sonhos, os professores são bem pagos e não precisam pular de colégio em colégio para poder se manter. Pois é a escola de uma sociedade em que a educação não é privilégio, mas direito universal, e o acesso a ela deve ser obrigatório.

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